Balanceamento de Dietas Personalizadas, Dietas Clínicas Especiais e Orientação para Dietas Caseiras, Naturais ou Complementação Natural Adequada para Cada Fase da Vida do Animal

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quarta-feira, 6 de abril de 2011

Prebióticos e Probióticos, você sabe a diferença?



O feto humano ou animal não contém germes. Mas logo após o nascimento as superfícies e mucosas são rapidamente colonizadas por microrganismos, segundo uma seqüência determinada para cada espécie. A duração desse processo também varia de espécie para espécie. No ser humano, por exemplo, são necessários de seis a 12 meses para que uma microbiota (microflora) semelhante à de um adulto se instale. Um ser humano adulto possui cerca de 100 trilhões de microrganismos de 300 a 400 espécies diferentes. No total, essa microbiota pesa cerca de 1,2 kg e tem uma atividade metabólica global semelhante à de um fígado. A microbiota normal pode, portanto, ser considerada como um órgão responsável pelo desempenho de funções benéficas aos animais e ao homem.


PROBIÓTICOS 


            São suplementos microbianos vivos que, ingeridos, melhoram o balanço microbiano do intestino do hospedeiro. Embora hoje os probióticos já tenham também aplicações nos ecossistemas respiratórios e urogenital, nos restringiremos a discutir sua ação no trato digestivo. Entre os probióticos mais estudados, tanto experimental quanto clinicamente, estão as bactérias e as leveduras. Alguns já são comercializados, sendo vendidos sob a forma de preparações, com um ou vários microrganismos vivos.

             Dos gêneros de bactérias mais investigados estão os Lactobacillus, Bifidobacterium, Streptococcus, Enterococcus e Escherichia, os dois primeiros são os que apresentam dados mais consistentes. Os Lactobacilli foram os primeiros microrganismos a serem administrados em sua forma viva, por via oral, visando produzir efeitos benéficos à microbiota digestiva. No início deste século, o microbiólogo russo Elie Metchnikoff (1845-1916) sugeriu o consumo de leite fermentado para modular essa microbiota. Na mesma época, o microbiólogo Francis Tissier observou que a microbiota fecal de recém-nascidos amamentados no seio apresentava mais Bifidobacterium do que a microbiota fecal de crianças que haviam recebido formulações e reconheceu o papel benéfico dessa bactéria. De fato, o gênero Bifidobacterium é típico da microbiota que predomina no trato digestivo humano, apresentando alta estabilidade populacional. Já os Lactobacilli são subdominantes, com populações bastante flutuantes. Desses gêneros de bactérias lácticas, as espécies mais usadas hoje como probióticos são: Lactobacillus acidophilus, L. casei, L. fermentum, L. plantarum, L. reuteri, Bifidobacterium bifidum e B. longum. Com menor freqüência, outros gêneros bacterianos já foram usados como probióticos em ensaios laboratoriais e clínicos, como as cepas de Escherichia coli EMO e Nisle e de Enterococcus faecium SF68. Esses microrganismos fazem parte da microbiota subdominante humana e são os primeiros a colonizar o trato digestivo do recém-nascido.

              Entre as leveduras, Saccharomyces boulardii é a única que foi amplamente testada em ensaios laboratoriais e clínicos. Esse microrganismo foi inicialmente isolado na lechia, planta da família das sapindáceas que ocorre nas regiões quentes da Ásia. Seus frutos contaminados pela levedura eram usados na medicina popular local para tratar a diarréia. O produto foi utilizado com a mesma finalidade a partir de 1960 e hoje é amplamente comercializado na Europa, África e América do Sul (Nicoli & Vieira, 2000).

             Os probióticos atuam inibindo a proliferação de bactérias patógenas pela produção de ácidos orgânicos e substâncias antibióticas ou pela redução de pH. As bactérias benéficas atuam produzindo enzimas digestivas e metabólitos capazes de neutralizar as toxinas bacterianas; ainda aumentam a imunidade da mucosa intestinal proliferando no trato digestivo e competindo com as bactérias patogênicas (Ferket, 1990 citado por SILVA et al, 2000). Ewing & Cole em 1994 (citados por SILVA, et al, 2000) descreveram também que os lactobacilos são capazes de influenciar a atividade das enzimas dos microvilos, as quais estão envolvidas no processo de absorção dos nutrientes e, dessa forma, beneficiam o hospedeiro.

          Entre as indicações dos efeitos benéficos dos probióticos, tem sido apontada para prevenção e tratamento coadjuvante de diarréias, assim como de doenças inflamatórias intestinais. Existem também indícios de que possam ser benéficos na prevenção primária de doenças alérgicas. As principais propriedades são: melhoria da atividade intestinal; facilita a digestão; inibe bactérias intestinais nocivas; previne infecção; adsorve substâncias carcinógenas; promove sabor aos alimentos; melhora o sistema imunológico e, estudos demonstram que, seu uso tópico auxilia doenças de pele. Hoje, pode-se afirmar que os probióticos são preparações seguras e já utilizadas em vários países (CARRANO, 2002).



              Abaixo são apresentados alguns dos efeitos fisiológicos dos probióticos.




1 - Inibição de bactérias intestinais indesejáveis - isto pode ocorrer por produção de substâncias bactericidas:


• Os lactobacilos podem produzir peróxido de hidrogênio, substância inibidora da Escherichia coli, salmonela, etc.


• Adesão à mucosa e multiplicação - este termo se refere à capacidade dos probióticos de aderirem nas vilosidades intestinais competindo e inibindo a fixação de patogênicos, como por exemplo, escherichia coli. A adesão não ocorre com todos os probióticos, segundo Bengmark, parece ser verdadeiro somente para o Lactobacilos Plantarum 299.


• Presença sem adesão à mucosa - para que isto ocorra é necessário que a ingestão do probiótico seja contínua pois sua suspensão não garante permanência no colon por período prolongado.


2 - Ativação da imunidade humoral e celular - Os Lactobacilos acidófilo, bulgárico e casei parecem aumentar a atividade fagocitária, a síntese de imunoglobulinas (IgA) e a ativação dos linfócitos T e B.


3 - Aumento da digestibilidade da lactose - os Lactobacilos produzem a enzima beta galactosidade que facilita a digestão da lactose






             
              PREBIÓTICOS




             São componentes da dieta, fermentados especificamente, cujo alvo são populações de bactérias intestinais consideradas benéficas para a saúde. Isto é, são ingredientes não digeríveis pelas enzimas digestivas, que afetam o hospedeiro modificando o crescimento e/ou a atividade de uma ou um número de bactérias benéficas no cólon tendo assim, o potencial de melhorar a saúde do hospedeiro. Compreendem a inulina e os frutooligossacarídeos (FOS). Quanto à recomendação do uso diário, os estudos variam de 8 a 10 gramas/dia para seres humanos.

Embora os aspectos clínicos da prebiose e seus aspectos relativos à promoção da saúde ainda não tenham sido definidos, é razoável supor que esta tecnologia pode ser útil para o futuro desenvolvimento dos alimentos que influenciam a bacteriologia do intestino grosso e finalmente o curso de certas doenças intestinais, pois estimulam o crescimento de bifidobactérias e suprimem o crescimento de bactérias putrefativas (CARRANO, 2002).

            
 
             A IMPORTÂNCIA DA MICROFLORA INTESTINAL
 

              Coloca-se então a questão:
- a microflora intestinal e assim tão importante?
- De fato, a microflora é essencial para a decomposição das substâncias alimentares que não foram digeridas, integridade das paredes intestinais, produção de vitaminas, particularmente do grupo B e ácidos gordos, estímulo à resposta imunitária, redução do nível do colesterol no sangue das aves e proteção contra microrganismos patogênicos.

             O intestino é parte importante do sistema imunitário, existem inúmeras doenças que são causadas pelo seu mau funcionamento e pela debilidade imunitária a que dá origem. Assim, o saneamento do intestino faz-se não só através do combate aos microrganismos indesejáveis (com antibióticos, sulfonamidas e antiparasitários), mas também por meio da reposição da flora bacteriana natural - microflora - com Probióticos. Também colaboram para manter um intestino em forma, os alimentos ricos em fibras, pão integral, germe de trigo, linhaça (cuidado com as sementes rançosas), legumes e fruta (mas cuidado com os pesticidas e fermentações), tudo isto claro, numa combinação equilibrada com os outros alimentos. De uma forma simplista, pode-se dizer que, enquanto existir uma microflora sadia nos intestinos, não haverá espaço para a entrada de bactérias patogênicas, como Salmonelas, Colibacilose, Cândidas, etc. Daí, sempre que existam indicações de debilidade, haverá em primeiro lugar que repor então toda a microflora, que na grande maioria dos casos será suficiente a utilização de Probióticos, sem necessidade de recorrer a outros produtos farmacêuticos como os antibióticos, antiparasitários, etc (PIRES, 1998).

 
 
Probióticos para diferentes espécies de animais

             Existem uma infinidade de preparados comerciais para uso na alimentação animal de várias espécies de monogástricos, porém pouco se tem de informações cientificas que comprovem resultados que possam se refletir em produção ou produtividade. Contudo, o efeito de bem estar animal e manutenção da integridade metabólica do aparelho digestivo, além de seus efeitos coadjuvantes nos tratamentos de patologias que acometem o aparelho digestivo, é inquestionável.




Dra. Aline Almeida
Zootecnista, DSc., MSc.







Bibliografia citada:

CARRANO, C. H.. Probióticos e prebióticos. Disponível em: http://www.enteral.com.br/dicas8.htm





BUTOLO, J. E. Tendências de uso de alimentos funcionais para animais de estimação. Gui xclusive Pet & Horse, Disponível em: http://www.xclusive.com.br/guia/pet/artNutricaoCbna.pdf



PIRES, L. Os Probióticos: em benefício da vida das aves. Boletim Informativo do
Clube Ornitológico Português. 1998. Disponível em: http://www.terravista.pt/Nazare/2222/probio.htm


Para os gatos

Seu gatinho está ficando velhinho? Saiba como melhorar sua saúde.



Com o passar da idade, o corpo passa por diversas mudanças metabólicas e fisiológicas que, em gatos, podem começar a ser observadas a partir de 10 anos. Pode ocorrer diminuição do aproveitamento de nutrientes da dieta, além mudanças nos hábitos de consumo de alimentos e até rejeição da ração.

Pequenas mudanças no manejo alimentar podem melhorar o metabolismo do seu gatinho e prevenir as possíveis complicações que o envelhecimento pode causar.


Dicas úteis:

• Gatos ficam menos dispostos a experimentar novos alimentos, evite mudar repentinamente a dieta.

• Observar e respeitar o gosto do animal por algum alimento, não insistir se o gato o rejeitar.

• Oferecer fontes de proteína mais digestíveis, como carne de rã, peixe, frango bem cozido e carne vermelha também muito bem cozida, ovo e queijo cottage.

• Usar levedura de cerveja (em pó, é facilmente encontrado nas casas de produtos naturais) levemente salpicada sobre o alimento ou uma colher de yogurt natural sem açúcar, podem estimular o paladar e aumentar a saúde do intestino.

• Um fio de azeite ou óleo extraído da semente de linhaça sobre a comida pode aumentar a absorção de vitaminas e fortalece o sistema imune.

• Observar as condições das gengivas e dos dentes periodicamente.

Lembre-se de consultar o veterinário se o animal apresentar falta persistente de apetite, emagrecimento repentino, fraqueza ou prostração.



Lembre-se: A saúde do seu bichinho também entra pela boca!



Até Breve!


Dra. Aline Almeida
Zootecnista DSc., MSc.

Fibras para animais

A fibra tem sido considerada ultimamente como um dos mais importantes alimentos da categoria dos "Nutracêuticos", que são os alimentos que além de seus nutrientes, podem trazer outros benefícios à saúde do organismo de alguma outra forma. As fibras dos diferentes tipos de alimentos podem ter propriedades prebióticas, favorecendo tipos de microorganismos intestinais que protegem a mucosa intestinal, favorecem a produção nutriente destes microorganismos e inibe a proliferação de patógenos. A associação de diferentes tipos de fibras na dieta pode ainda favorecer a absorção de nutrientes provenientes da alimentação, manter o fluxo da digesta intestinal, favorecer a formação do bolo fecal e prevenir distúrbios digestivos e até câncer de cólon.

Estes preceitos são válidos para humanos e animais, desde que sejam respeitados os limites de cada tipo de fibra e de alimento adequado para cada espécie.





A importância da Fibra na Nutrição Animal


1. Introdução


              Incluída no rol dos alimentos funcionais definidos como aqueles que “podem ajudar a melhorar as funções vitais, ajudando, inclusive a prevenir, e/ou tratar moléstias” a fibra dos alimentos ou produtos deles derivados ganham novo “status” entre os nutrientes nesta ultima década do século XX.
              MALAFAIA et al. (2002) citando EHLE et al. (1982), afirmaram que até meados da década de 70, a fibra (constituintes da parede celular vegetal, que são carboidratos estruturais) era descrita como componente inerte na alimentação de carnívoros e onívoros e a partir desta época essa idéia começou a ser repensada.
            Característica exclusiva dos alimentos vegetais, a fibra dietética desempenha na nutrição um papel relevante. Seu estudo tem sido bastante dificultado pela complexidade da composição da chamada “fibra” que engloba integrantes com diversas funções químicas e que variam qualitativamente e quantitativamente à medida da evolução da vida do vegetal considerado. Qualquer parte (raiz, caule, folhas, flores, ou frutos) de qualquer vegetal apresenta estrutura celular, cujas paredes encerram os nutrientes, estes tecidos celulares, que em sua maior parte é constituída polissacarídeos. Com isso, podemos então afirmar que em uma dieta em que os alimentos de origem vegetal são variados, as concentrações de fibra dietética podem variar bastante, com implicações nutricionais. Essa observação demonstra a dificuldade que os nutricionistas encontram para assegurar o consumo de equivalente qualidade e quantidade de fibra dietética.  
             Para a possibilidade de utilização dos nutrientes contidos nas células vegetais, as paredes devem ser rompidas, o que se consegue com a mastigação, com os movimentos do antro estomacal, ou quando o produto sofreu um tratamento prévio, culinário ou tecnológico (como é o caso das farinhas de cereais, de raízes ou de outras porções vegetais), pelos processos utilizados no preparo.
             A fração designada fibra dietética em alimentos corresponde então, à soma de resíduos de paredes celulares e dos tecidos de sustentação dos vegetais, consumidos nas mais variadas dietas, correspondendo a um conjunto de compostos que resistem a hidrólise pelas enzimas endógenas do tubo digestivo.

2. Características da fibra dietética


              A fibra dispõe de numerosas propriedades, podendo-se destacar:



• São substancias de origem vegetal;
• Formam um conjunto heterogêneo de moléculas complexas;
• Não podem ser digeridas pelas enzimas endógenas do trato digestivo dos animais monogástricos;
• Podem ser parcialmente fermentadas por microorganismos do cólon;
• Possuem faculdades osmóticas.

            A adição de fontes vegetais, ricas em polissacarídeos não amiláceos e carboidratos estruturais, na dieta de animais não-ruminantes podem levar a uma redução na digestibilidade de alguns nutrientes de tal dieta, pois as fibras são capazes de formar compostos com água, deixando a digesta mais viscosa e dificultando a ação das enzimas digestivas, segundo VAN SOEST (1994).
             Os diferentes tipos de materiais que compõem a fibra dietética apresentam diferentes graus de solubilidade em água, sendo alguns capazes de formar géis, condições que influenciam suas ações no organismo e também sua degradabilidade pelas bactérias intestinais. A celulose é resistente à degradação e insolúvel em água. Assim, os integrantes da fração fibra classificam-se em solúveis (goma, mucinas e pectina) e insolúveis em água (celulose, hemicelulose e lignina).

3. Digestão e influências da fibra no aparelho digestivo


                Os efeitos no organismo de animais monogástricos provocados pela ingestão de fibra dietética com maior importância são:

      No estômago: A fibra desencadeia um aumento de salivação por causa da necessidade de maior tempo de mastigação e causa, portanto, um atraso no esvaziamento gástrico. A fibra solúvel pode ser utilizada em dietas de emagrecimento porque aumenta o volume do bolo alimentar e leva à sensação saciedade.
      No intestino delgado: O aporte de fibra na alimentação causa a maturação de vilosidades intestinais, aumentando a área absortiva das mesmas. Desta maneira atrasa ou diminua a absorção de matérias orgânicas ou inorgânicas. Esta questão é importante na questão do metabolismo de glicose (fibra solúvel) e do colesterol (fibra insolúvel e lignina).

       No intestino grosso: A fibra acelera o trânsito intestinal porque aumenta a massa fecal e esta por sua vez estimula a propulsão das fezes, aumentando o peristaltismo.

             O conhecimento das propriedades físico-químicas da fibra é importante para explicar os efeitos fisiológicos globais na nutrição dos animais e do homem. A estrutura física, a grande escala de polimerização e a associação macromolecular, são os fatores que mais determinam algumas propriedades das fibras. Estas podem influir no transito intestinal das dietas, alterando o peristaltismo, na absorção de minerais e, com a adsorção de sais biliares, no metabolismo de lipídeos. A capacidade de absorver água, o intercâmbio catiônico e a adsorção de elementos na matriz da digesta, são variáveis de acordo com a composição da parece celular. A quantidade de hemiceluloses e pectinas presentes determina a maior higroscopicidade do bolo alimentar (FERREIRA, 1994).
             A capacidade de troca catiônica da fibra, medida pela capacidade de ligar-se a íons metálicos, conduzindo à alterações na absorção de elementos minerais e também afetar a ligação de microorganismos aos polissacarídeos alterando também a taxa de digestão das subtâncias estruturais da parede celular vegetal. Substâncias que possuem grupamentos ácidos como o urônico (pectinas) e fenólicos (lignina), ou mesmo resíduos sulfatados, podem ligar-se ao magnésio, cálcio, zinco e ferro, juntamente com outras substâncias capazes de quelar cátions bivalentes que podem estar presentes na célula vegetal, como fitatos, silicatos e oxalatos. A lignina em particular tem sido apontada como uma das maiores responsáveis por interferências negativas na absorção de minerais por sua forte capacidade de ligação iônica, além de grande capacidade de reter ácidos biliares, assim como a pectina, com possível repercussão no metabolismo de lipídeos, impedindo a reabsorção e reduzindo o “pool” entero-hepático de colesterol circulante, que passa a ser mobilizado para a produção de novos ácidos biliares, baixando conseqüentemente, a concentração sérica de colesterol. Outro fator a ser considerado é a do ácido propiônico inibir a síntese de colesterol em hepatócitos in vitro (CHEN et al, 1981, citado por FERREIRA, 1994).
              No pH 2,5 do estomago, fortemente ácido, algum cálcio da parede celular pode ser deslocado, o que irá ter influência sobre a solubilidade dos polissacarídeos pécticos, contribuindo para aumentar a taxa dos integrantes solúveis da fibra dietética. E, é na porção solúvel da fibra dietética que vem sendo creditados os maiores benefícios nutricionais.
             De qualquer forma, os efeitos fisiológicos da fibra dietética são devidos à composição e às propriedades físicas dos polissacarídeos presentes. Embora não seja possível predizer com certeza a relação existente entre estrutura, propriedade e efeitos fisiológicos, pode-se com razoável segurança afirmar, por exemplo, que o ritmo de absorção da glicose depende da presença, ou não, de compostos capazes de forma soluções viscosas, como a pectina.
              A presença da fibra dietética nos alimentos consumidos retarda a absorção dos nutrientes auxiliando o aparecimento da sensação de saciedade que favorece o menor consumo de alimentos agindo com um controlador de ingestão. Nos estudos de nutrição humana, à fração insolúvel da fibra é atribuído o aumento do bolo fecal que garante o peristaltismo intestinal e evita a constipação, anulando o risco de aparecimento de hemorróidas e diverticulites (inflamação da parede do intestino, resultado de irritação conseqüente de diverticulose) que provocam enfraquecimento da parede intestinal causada pelo aumento da pressão de fezes duras.
              Os efeitos hipocolesterolêmicos de uso da fibra dietética, bem como a proteção contra o câncer colorretal parece derivar das ações dos componentes da fibra solúvel, embora ainda não sejam perfeitamente conhecidos os mecanismos pelos quais se concretizam. Os efeitos se manifestam sobre o metabolismo dos lipídios e carboidratos bem como sobre a fisiologia do trato gastrintestinal, prevenindo o aparecimento de certas desordens.
               A porção insolúvel da fibra dietética praticamente não tem qualquer efeito no metabolismo lipídico, enquanto a porção solúvel em água tem propriedades hipocolesterolmenizantes. Os mecanismos da ação ainda não são bem conhecidos, embora varias hipóteses tenham sido levantadas e estudadas.
               Também sobre o metabolismo dos carboidratos ou glicídios a fração insolúvel da fibra não apresenta ação significativa, mas a fração solúvel, mais ainda a que forma soluções viscosas, testada em indivíduos sãos ou diabéticos, reduziu a glicose melhorando o perfil da resposta insulínica. E, o pensamento atual é de que uma ingestão de 25g de fibras insolúveis para seres humanos adultos não tem um efeito adverso no metabolismo dos minerais quando níveis adequados de minerais são consumidos.
              MALAFAIA et al. (2002), estudando a influência das fibras na alimentação de cães, provaram que não só a quantidade de fibra influencia na digestibilidade mas também o tipo de fibra, quanto a sua solubilidade, pois a medida em que foram aumentadas as fontes de fibras de baixa fermentabilidade (folhas de alfafa) na dieta, decresciam os coeficientes de digestibilidade aparente das dietas, que eram isoprotéicas, e, que estes coeficientes se equivaliam ou até aumentavam com a inclusão de fibras com maior capacidade de fermentação (polpa de citrus).


3.1. A fibra e a microbiota intestinal


              Existem estimativas de que milhares de espécies de microorganismos habitam o trato digestivo de dos animais, incluindo bactérias, protozoários ciliados e flagelados, fungos e bacteriófagos. Apesar dos avanços da microbiologia, são cultiváveis somente 30 a 40 espécies, entre centenas identificadas dificultando os estudos de seletividade de cepas por modificações de substrato (MENTEM, 2002).
              LEEDLE, (2000a), citado por MENTEM (2002) considera a microbiota intestinal como um órgão adaptável e rapidamente renovável. Considera-se que os organismos que compões a microbiota nativa (autóctone) do trato digestivo tenham as seguintes características:


1. Capacidade de crescer anaerobicamente;
2. Presença do organismo em todos os indivíduos normais adultos;

3. Capacidade de colonizar regiões específicas de trato digestivo, após o estabelecimento sucessivo de diferentes grupos de organismos;

4. Manutenção de populações estáveis em comunidades clímax;

5. Associação íntima com o epitélio da mucosa em alguns casos;

6. O hospedeiro adquire tolerância imunológica aos organismos, os quais não são imunogênicos ao hospedeiro natural.


              E, para um microorganismo ser considerado como normal para espécie, deve-se basicamente ao número desse no organismo adulto. Existem organismos patógenos que são de ocorrência natural no aparelho digestivo, como Pseudomonas ssp., Staphylococus ssp., e Clostridium, porém quando a fibra dietética pode favorecer as cepas benéficas que controlarão o desenvolvimento dos patógenos, entre essas estão Lactobacillus, Eubacterium e Bifidobacterium (MENTEM, 2002).
              Em herbívoros não-ruminantes adultos, a população microbiana ceco-cólica predominante é formada por bacterióides, gram-negativos, não esporulados, do gênero Bacillus sp., com concentrações médias diferentes entre as espécies hospedeiras.
             Uma das propriedades da fibra na dieta de não-ruminantes é o favorecimento da flora intestinal, e um importante efeito tampão determinado pelas trocas catiônicas (EASTWOOD (1987), citado por FERREIRA (1994)). A presença desta no intestino grosso dispõe-se como substrato para fermentação bacteriana, causa efeitos relevantes nutricionalmente.
             O substrato que escapou da digestão ácida no estômago e da digestão enzimática no intestino delgado, somada a produtos de secreção endógena, de descamações é o que vai favorecer a manutenção de flora microbiana ceco-cólica. Os componentes da parede celular vegetal têm então, grande influência sobre a massa microbiana que se desenvolverá, e na sua atividade enzimática. É consensual que a massa bacteriana pode aumentar como resultado do aumento da fibra, no entanto os tipos de bactérias não são alterados (FERREIRA, 1994 citando EASTWOOD, 1988). A fermentação dos componentes da fibra, assim como da fração amido-resistente, pode dar lugar à produção de CO2, hidrogênio, metano e ácidos graxos de cadeia curta (AGCC).


Tabela 1. Proporção molar de ácidos graxos voláteis de cadeia curta em diferentes espécies.

               Acético : Propiônico : Butírico
Homem -   60: 20: 15    (Eastwood, 1992)

Suíno -      60 a 77: 17 a 21: 5 a 17   (Low, 1985)

Coelho -   60 a 70: 10 a 15 :15 a 20   (Vernay & Raynaud, 1975)
Fonte: FERREIRA (1994).


              E, segundo vários autores, os ácidos graxos voláteis produzidos pela ação de bactérias intestinais podem cobrir entre 5 e 30% das necessidades energéticas de mantença para suínos e de 38% para coelhos, contudo a energia é mais utilizada para manutenção da mucosa intestinal, sem dar grandes contribuições no que tange ganho produtivo.
             CLEMENS (1996) Investigando a ação da fibra na alimentação de cães mostrou com a absorção colônica in vivo de ácidos graxos de cadeia curta podem ser alterados mediante alteração da fonte de fibra em dietas isoprotéicas.
              A inclusão de frutooligossacarídeos (FOS) previne a proliferação de cepas de Clostridium difficile em hamsters e de Escherichia coli em leitões, concomitante com o aumento da cepa de Bifidobacteria spp. demonstrando que as cepas de bactérias benéficas controlam o crescimento de outras populações de patógenos, além de favorecer a produção de AGCC como fonte de energia disponível para manutenção das mucosas intestinais. Em cães foi demonstrado que o aumento da disponibilidade de AGCC, principalmente de ácido butírico, contribui para prevenção de diarréias, pois este aumento faz com que seja aumentada a reabsorção de sódio do meio intraluminal, prevenindo aumento da pressão osmótica que pode provocar a diarréia (KERLEY & SUNVOLD, 1996).
              O Estímulo do sistema imune, pela microflora sadia no intestino está ligado a principalmente às cepas de Lactobacillus e Bifidobacterium (Tabela 2), indicando efeitos de aumento na produção de anticorpos, ativação de macrófagos, proliferação de células T e produção de interferon (MENTEM, 2002).
               Outros benefícios ligados á presença de uma microflora saudável no intestino é o aumento da função imune e síntese de vitaminas, principalmente as do complexo B. A prevenção do desenvolvimento de cepas de patógenos também previne contra os efeitos deletérios das toxinas produzidas, como substâncias putrefativas e carcinogênicas (SUNVOLD, 1996).
               No processo de digestão microbiana vários nutrientes são formados pela síntese bacteriana, que estão disponíveis para a absorção e que contribuem, em vários graus, para a entrada de nutrientes. Estes incluem vitaminas: K, B12, tiamina e riboflavina . a vitamina K, em particular, contribui significantemente para o suprimento disponível. A flora intestinal ajuda a fermentar carboidratos e fibras, especialmente em ácidos graxos de cadeia curta, e aumenta a absorção de sódio e de água. Contudo o aproveitamento de algumas vitaminas e do nitrogênio fixado por crescimento microbiano é baixo pois no intestino grosso a maior absorção é de água e eletrólitos. Nesse caso, animais herbívoros com ceco-funcional podem lançar mão de duas estratégias (BERNARDI, 1993).
              Adaptação a cecotrofagia, que possibilitaria que o material produto da fermentação microbiana passasse pelo processo de digestão enzimática e pelos sítios absortivos do trato gastrintestinal, a partir da ingestão direto do ânus de um tipo de “fezes moles” produto do ceco e rico em produtos microbianos. Como em coelhos, capivaras e cavalos. Ou, adaptação à ingestão de fezes como estratégia de aproveitamento de produtos da fermentação microbiana, principalmente quanto ao nitrogênio microbiano. Como em emas e avestruzes.



Dra. Aline C. Almeida
Zootecnista, MSc., DSc.
CRMV-RJ 702/Z



Referências bibliográficas:

CLEMENS, E. T. Dietary fiber and colonic morphology. In: IAMS INTERNATIONAL NUTRITION SYMPOSIUM – RECENT ADVANCES IN CANINE AND FELINE NUTRITIONAL RESEARCH. Ohio, 1996. Anais… p: 25-32.
FERREIRA, W. M. Os componentes da parede celular vegetal na nutrição de não-ruminantes. In: Reunião anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 31. Simpósio Internacional de Produção de não-ruminates. Maringá, 1994. Anais... p: 85-113.

KERLEY, M. S. & SUNVOLD, G. D. Physiological response to short chain fatty acids production in the intestine. In: IAMS INTERNATIONAL NUTRITION SYMPOSIUM – RECENT ADVANCES IN CANINE AND FELINE NUTRITIONAL RESEARCH. Ohio, 1996. Anais… p: 33-39.

MALAFAIA, M. I. F. R., et al. Consumo de Nutrientes, Digestibilidade In Vivo e In Vitro de Dietas para Cães Contendo Polpa de Citrus e Folha de Alfafa. Ciência Rural, Vol: 32 (1), 2002. p: 121-126.

MENTEN, J. F. M. Probióticos, prebióticos e aditivos fitogênicos na nutrição de aves. In: SIMPÓSIO SOBRE INGREDIENTES NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL. CBNA – Uberlândia, MG. 2002. Anais... p: 251-276.

SUNVOLD, G. D. Dietary fiber for dogs and cats: An historical perspective. In: IAMS INTERNATIONAL NUTRITION SYMPOSIUM – RECENT ADVANCES IN CANINE AND FELINE NUTRITIONAL RESEARCH. Ohio, 1996. Anais… p: 3-14.

VAN SOEST, P. J. Nutricional Ecology of The Ruminat. Ithaca: Cornell University, 1994. 474p.